domingo, maio 20, 2007

TORRENCIAL

Chove torrencialmente na capital, em uma rua não movimentada, mas em um bairro nobre, Alice e Pedro no apartamento beijam-se a luz de velas vivendo um tórrido romance, o apartamento é dela, seus pais são médicos no interior do estado e ela estuda psicologia na federal da capital. Mora sozinha possui carro e é aparentemente sustentada pelos pais.
Pedro é seu colega de aula, conheceram-se trombando no corredor, ele derrubou os livros dela e depois sorriu, desculpando-se. Ele não é um homem sem passado, terminou um namoro há um mês, quando ela foi trabalhar na Bahia, nunca mais se falaram. Os dois são jovens, ela tem 23 anos e ele 26, na faculdade são só amigos, na noite, dormem um lado do outro, na cama são selvagens, apaixonados e constantes.
Alice é uma estudante normal, bonita e bem arrumada, uma boneca, rica e fina. Mascara uma rebeldia interna, do ódio ao rosa ao gosto pelo preto, da possibilidade de não trabalhar ao seu emprego noturno. Ela dança em uma boate bem freqüentada da cidade. Diverte-se com as caras dos senhores importantes. Ela só dança, mas a boate possui stripers e prostitutas de luxo, acompanhantes executivas. Pedro sabe, não gosta, mesmo assim não a contraria, com medo de perdê-la.
Alice sai da boate pela porta dos fundos, na noite nublada, parece que vai chover em poucos minutos, tira um cigarro da carteira e acende com seu isqueiro novo, olha para o estacionamento a espera de Pedro, ele não vem, ela mexe no celular e liga para ele, a conversa que se segue é normal:
- Pedro, onde você esta?
- Estou no carro, vem pra cá, te espero.
- Estou chegando.
Ao entrar no carro eles se beijam, ele liga o automóvel e começa as perguntas.
- Como foi hoje?
- Normal – disse displicente, tragando e soltando a fumaça bem devagar – nada que eu não tenha passado antes, os mesmos clientes com as mesmas putas.
- E como foi o dia?
- Foi bom – olhou para ele antes de jogar a bagana fora e fechar a janela – por que esta me perguntando isso?
- Por nada!
Chegam ao apartamento, abrem a porta, entram, ele a puxa e a beija com força, como se quisesse garantir que ela esta ali, a abraça e diz que a adora ao ouvido, ela anuncia que vai para o banho e lá Alice chora, aproveitando a água que corre quente pelo seu corpo e pelo seu rosto, ela sente que algo aconteceu, não sabe ao certo o que, mas sabe que tem a ver com Clarissa, a ex dele.
Alice sai do banho e vai para o quarto, vagando e observando a casa, com um ar pesado de quem vai voltar a ficar sozinha nas noites da semana, não que ela já não tivesse sido abandonada antes, mas a realidade próxima do abandono a deixava triste, perturbada, como se ela tivesse algum problema e que ela não conseguisse vê-lo para corrigi-lo o mais rápido possível, antes das coisas acontecerem, antes de chuva levar mais alguém para longe dela.
No quarto ela esforça-se para vestir-se, ele a espera na cama, com um rosto preocupado e um pensamento longe. Ela acende as velas, liga um som baixinho e deita ao lado dele, ele a puxa com cuidado e a abraça mesmo com o calor do seu corpo ela não o sentia perto, mas sim muito longe.
Começa então uma conversa pesada e cheia de desabafos:
- O que aconteceu com você hoje? – ela pergunta seria.
- Não aconteceu nada – ele responde arrependido – na verdade, a Clarissa ligou hoje, conversamos por um tempo e eu precisava vê-la.
Um soco no estomago, ela sentiu como uma bala no peito, mesmo com o coração acelerado ela continuou com a voz calma:
- Quando você pretende ir?
- Ainda não sei, precisava falar com você antes, queria saber o que você achava disso?
- Acho que você tem que fazer o que precisa ser feito, não sei o que você acha, mas vai ser melhor se você resolver o que você esta sentindo e depois, se for o caso, voltar pra ficarmos numa boa. – falou brincando com os dedos dele.
Um suspiro e um silencio, o quarto escuro pareceu mais sepulcral do que antes, mesmo abraçados dormiram como um casal de idosos cansados. Em uma semana ele se foi, sem data para voltar, o silencio do apartamento ficou cada vez pior, e ela começou a voltar para casa sozinha, a dançar uma hora a mais para passar a noite, a beber mais um drink antes de dormir, a esperar mais um dia por Pedro, mesmo sabendo que ele não voltaria para seus braços.
Então, em uma noite, enquanto ela dançava, foi chamada ao camarim, as garotas da boate avisaram que um rapaz a esperava, e que ele estava esperando por ela na rua. Pegou seu sobretudo de couro preto e vestiu sobre sua pouca roupa colada, ao andar sua bota alta aparecia sobre a meia calça arrastão. Tomou um choque ao ver Pedro a esperando do lado de fora da boate, com medo se encararam, seus olhares dispensavam as palavras vindas na seqüência.
- Alice, eu precisava te encontrar...
E antes que ele dissesse uma palavra ela o olhou seriamente e disse:
- Você vai me deixar, eu já sei! – altiva emendou – você sempre esteve livre para fazer o que bem entender com quem você quiser, quando você quiser, eu sou bastante adulta para entender o que aconteceu.
- Eu nunca duvidei da sua maturidade, eu só queria que você soubesse de tudo, estou indo para Londres, com a Clarissa, consegui uma oportunidade lá e ... – demorou-se um pouco – acho que vai ser melhor para nós dois!
- Será, eu também acho.
- Eu sempre adorei você, mas você sempre soube do meu passado.
- É eu sempre soube disso, eu sempre soube que você iria me deixar, eu preciso trabalhar agora.
Houve um silencio, ele passou a mão em seu rosto de leve, a noite estava gelada e chovia torrencialmente, ele tocou seus lábios nos dela, o calor dos lábios de Pedro fez com que ela arrepiar-se por completo, ele tirou a mão dela, Alice olhou-o seriamente e virou as costas, batendo seu salto no asfalto do estacionamento, sem ligar para as poças que se formavam por causa da chuva, e nem para o segurança que a observava de longe.
No palco dançou para apenas um homem, como sempre dançava, descia até o chão para ver se arrancava algum dinheiro do velho, enquanto isso não tirava a ultima cena da cabeça, passava as mãos na peruca como se fosse arrancá-la.
Uma acompanhante tirou o senhor do salão e levou-o para o quarto, agora não sobrava mais ninguém, Alice escorregou pelo cano de ferro no centro do palco com o rosto colado a ele, caiu uma lágrima de seu rosto enquanto ela sentava no chão do palco, imóvel. A chuva era torrencial, assim como sua solidão.
VIVA A ALEMANHA!

A exclamação do título não é um erro metodológico e nem um símbolo ocidental que exprime exagero. É um caracter que demonstra com complexidade e ao mesmo tempo simplicidade a minha alegria ao assistir as criações do cinema alemão.
Toda essa introdução é somente para recomendar com muita alegria três obras primas da direção alemã.
Há algum tempo assisti pela primeira vez Adeus Lênin! Escolhi este através da sinopse do DVD, depois de lê-la dei um sorriso e pensei, é este que eu levo.
Sem decepção alguma, vi ele do inicio ao fim, ate meu irmão que assistia Gordo Freek Show na TV parou para assistira e amou, como eu.
Depois parti para A Queda! As últimas horas de Hitler. Este então, mais seco e mais duro, em conseqüência, mais triste. A guerra mostrada com muita crueldade, como todos os filmes que já tinha assistido. Porém mostrada de uma ótica diferente.
Senti mais indignação do que o normal, pelo simples fato da loucura que não é freada por ninguém, mesmo os mais conscientes.
Pra arrematar, mais um. The Edukators, absurdamente bom. Três jovens, um ideal, um triangulo amoroso, algo dá errado, parece comum, mas é surpreendente, fora a trilha sonora que é uma obra.
De certa forma estes três filmes partem do mesmo principio: a ideologia como principio norteador de suas atitudes e ações. Todas parecem corretas vistas pela ótica de quem idealiza, mas todas são controversas.
O primeiro dá vontade de ver várias vezes, os outros dois uma vez só basta. O primeiro é bom para ser visto de uma só vez, os outros precisam de intervalo.
A Queda! Choca, Adeus Lênin! Alegra e The Edukators, conforta. Talvez eu devesse trocar a ordem, mas acho que eles surtem o devido efeito a que se propõem.